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Depressão, o mal do século 21

Por Veículo: Terra Seção: Vida e Saúde, 30/09/2017 12h53
Depressão pode atingir 30% da população e o seu tratamento deve incluir a psicoterapia (Foto: Reprodução)
Depressão pode atingir 30% da população e o seu tratamento deve incluir a psicoterapia - Foto: Reprodução

"A depressão é um problema de saúde pública, e será o mal do século 21, juntamente com a síndrome do pânico", afirma Sílvia Ivancko, psicoterapeuta e psicóloga do Instituto de Cancerologia de São Paulo. Os números da depressão são mesmo alarmantes: embora não se tenha um cálculo exato, estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra da doença, sem saber.
"O maior problema com a depressão é o desconhecimento. O indivíduo deprimido está doente, sofre muito, mas sua falta de interesse pela vida costuma ser vista como preguiça ou falta de caráter", explica Sílvia.
Quimicamente, a depressão é causada por um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção de hormônios como a serotonina e endorfina, que nos dão a sensação de conforto, prazer e bem-estar. Quando há algum problema nesses neurotransmissores, a pessoa começa a apresentar sintomas como desânimo, tristeza, autoflagelação, perda do interesse sexual, falta de energia para atividades simples.
Em geral, em algum momento de suas vidas, uma em cada cinco pessoas experimentará pelo menos um episódio depressivo. Mas Sílvia Ivancko explica que, embora trate-se de um distúrbio químico, a depressão sempre tem, em sua raiz, algum motivo psicológico. Assim, seu tratamento inclui, necessariamente, a psicoterapia. "O remédio ajuda muito, mas ele não é eterno. Se a causa primeira não for tratada, a depressão voltará".

Tristeza ou depressão: como distinguir?

De maneira geral, a depressão é a tristeza que não passa, e que muitas vezes parece não ter um motivo definido. "É perfeitamente natural que, em momentos de grande tristeza, as pessoas sintam um grande desânimo diante da vida. O problema é que, muitas vezes, a tristeza pela morte de alguém querido, pelo fim de um relacionamento, pela perda de um emprego, não passa. Normalmente, a tristeza é vencida depois de um período de luto, e a vida recomeça. Mas, quando ela não vai embora, pode estar encobrindo uma depressão. Se uma pessoa percebe que está com muita dificuldade para vencer o sofrimento, deve procurar auxílio médico o quanto antes", alerta a psicoterapeuta Sílvia Ivancko.
Embora os sintomas da depressão variem muito, alguns são comuns a quase todas as pessoas que sofrem deste mal. Veja quais são:

Distúrbios do sono
A insônia está ligada diretamente à depressão. Embora nem todas as pessoas que sofram de insônia estejam deprimidas, a grande maioria dos deprimidos sofre de insônia, especialmente aquela em que de desperta durante a madrugada e não se consegue mais dormir. Outro tipo de insônia comum entre as pessoas que sofrem de depressão é aquela em que se dorme por longas horas, mas o sono não é reparador.

Distúrbios alimentares
A inapetência ou o excesso de apetite também podem estar ligados à depressão. Em geral, as pessoas que sofrem de anorexia e de bulimia, por exemplo, estão deprimidas.

Melancolia
O indivíduo deprimido está sempre triste e sem vontade de fazer coisa alguma. Em alguns casos, momentos de melancolia são intercalados por momentos de euforia. Os indivíduos que sofrem disso são os chamados "maníaco-depressivos".

Autoflagelação
Mesmo sem perceber, o indivíduo deprimido parece querer infligir sofrimento a si mesmo. É muito comum, também, que a depressão cause problemas ao sistema imunológico, e o indivíduo adoeça.

Pensamentos mórbidos
A pessoa deprimida pensa muito em morte - não necessariamente em suicício. Esses pensamentos não devem ser incentivados, mas precisam ser compreendidos.

Como tratar a depressão?

Foi-se o tempo em que a depressão (antes chamada simplesmente de "melancolia") era vista como condição inerente a alguns indivíduos. Hoje, embora muitos estudiosos pesquisem as causas genéticas e sociais da depressão, todos reconhecem que se trata de uma doença tratável.
De acordo com a psiquiatra norte-americana Elaine Shlmberg, autora de Depression: What Families Should Know (Depressão: O que as Famílias Devem Saber), um dos maiores empecilhos para o diagnóstico e o tratamento da depressão são as pessoas que pertencem à famlia do doente. Por ser muito doloroso reconhecer que uma pessoa querida está sofrendo verdadeiramente, a famíla costuma fazer vista grossa, culpando o deprimido ou aos seus amigos pelo desânimo, e tenta cobrar dele algo que ele não pode dar. O problema é que, ao fazer isso, na verdade, a família impede o doente de procurar a ajuda que, na maioria das vezes, estará fora da família.
A psicoterapeuta Sílvia Invancko explica que a compreensão da depressão é um dos momentos mais difíceis do tratamento, tanto para o doente quanto para as pessoas que convivem com seu sofrimento. "Mas, sem tratamento, mesmo que o problema pareça ter passado, ele tende a voltar cada vez pior. É fundamental que se aceite a existência da doença e se assuma a responsabilidade por tratá-la de maneira adequada, mesmo que isso implique mudanças de comportamento por parte de todos os envolvidos."
A boa notícia é que a medicação contra a depressão apresenta bons resultados, e muitas vezes ela sequer é necessária. E não é difícil buscar tratamento: "Todas as faculdades de psicologia e de medicina do Brasil oferecem atendimento gratuito e de qualidade para este e outros problemas". Sílvia também destaca que "essa história de que a depressão é doença de rico é mentira. Esta é uma doença que não escolhe idade, sexo ou posição social. Todos estão sujeitos, e muitos sofrem sem necessidade, simplesmente por não saberem que estão doentes."

Como entender a doença?

"Ficar tentando descobrir se a depressão é desencadeada, primariamente, por motivos químicos ou psicológicos, é o mesmo que perguntar se o ovo veio antes da galinha. Na verdade, tanto a química cerebral altera nossas emoções quanto é alterada por elas", afirma a psicoterapeuta Sílvia Ivancko.
Ela também explica que existem dois tipos básicos de depressão: a reativa, isto é, aquela provocada por um grande sofrimento ou trauma, e a sistêmica ou crônica, isto é, aquela que surge, aparentemente, sem motivo.
"Mas, em geral, mesmo não seja óbvia nem aparente, há alguma causa psicológica na raiz de uma depressão. Muitas vezes, a pessoa nem lembra o motivo, mas, na terapia, acaba identificando a causa e encontrando o caminbo da cura. Além disso, também é preciso reconhecer que as pessoas têm níveis diferentes de resistência ao sofrimento."
O entendimento de como as doenças se instalam no organismo ainda é, em certo sentido, um mistério. E, no caso da depressão, esta questão é ainda mais difícil, pois trata-se de uma doença que está no limiar entre o físico e o mental. "Acredito que a compreensão da depressão passe pela aceitação do fato de que não há como separar o corpo da mente", conclui Sílvia.

Veículo: Terra
Seção: Vida e Saúde