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Artigo: “Cultura da intolerância”, por Andrey Cavalcante

Por Dr. Andrey Cavalcante, 17/09/2016 08h07
 (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução

O radicalismo abjeto daqueles que se instalam nos extremos do espectro político em busca de alguma compensação para a insuportável carência de atributos intelectuais e morais, os conduz a responsabilizar, no geral, a sociedade pela própria exclusão e isolamento. Buscam, além de notoriedade, a vingança, na depredação do patrimônio público e privado, ou agressões à honra e à dignidade daqueles que não se aliam e são, por isso, inimigos. A insídia e a violência emolduram suas manifestações. Não respeitam a legislação que baliza a convivência democrática, mas recorrem invariavelmente à própria democracia e às leis para justificar, como fruto do direito à livre manifestação, a verdadeira barbárie física e moral que buscam impor à sociedade. É a cultura da intolerância, hoje apontada como uma das mais fortes resistências à estabilidade política e social do país, fundamental para o reequilíbrio econômico e retomada do desenvolvimento.

Exemplo mais claro dessa singularidade, anormalidade, amoralidade, dessa, enfim, verdadeira anomalia política é o deputado Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal por incitação ao estupro. Foi também acolhida uma queixa-crime contra ele por injúria. E ainda figura como forte candidato à perda do mandato na Câmara dos deputados por quebra de decoro parlamentar. Como imagina que sua disparatada verborragia lhe assegure aprovação popular não apenas para a reeleição, mas para aspirar vôos mais ambiciosos, como a Presidência da República, ele não deixa passar oportunidade de transgredir e agredir. Sua mais recente manifestação aconteceu esta semana, quando compareceu a uma sessão geral do plenário da Câmara que discutia a “cultura do estupro e a proteção à vítima”.

O cidadão juntou-se a seu filho, Eduardo Bolsonaro, no ataque virulento à vice-presidente da OAB/DF, Daniela Teixeira, após provocá-la no plenário da Câmara, quando se manifestava, na condição de representante da OAB Nacional, na sessão da comissão geral sobre a Violência contra a Mulher. A advogada observou que “Enquanto os agressores não forem punidos, a violência não vai diminuir. Eles devem ser punidos. Seja quem for. Seja o marido da vítima [...], seja o promotor que está abusando de uma vítima em uma audiência, ou seja um deputado que é réu, sim, numa ação já recebida no STF”. Ela apenas citou o nome do deputado após ser por ele desafiada. Foi o bastante para provocar uma sessão de ofensas e impropérios, que não se limitou ao evento, posto que seus seguidores desencadearam por telefone uma verdadeira campanha de agressões contra a advogada.

O Brasil inteiro, felizmente, manifestou sua indignação para defender a vice-presidente da OAB-DF. Em nota oficial assinada por toda a diretoria nacional, a OAB solidarizou-se com a Dra. Daniela Teixeira, cumprimentando-a por sua altivez e coragem: “Não é aceitável que figuras públicas, no exercício de um poder delegado pelo povo, se utilizem da imunidade parlamentar para fazer esse tipo de discurso num claro desrespeito às mulheres e ao Estado Democrático” – disse a nota. No mesmo diapasão, a OAB Rondônia hipotecou solidariedade para afirmar que “Qualquer ato tendente a silenciar um Advogado já é atentatório à cidadania, manifestando-se ainda mais gravosa a tentativa de calar um profissional quando representa institucionalmente a OAB”.

“A Vice-Presidente da OAB/DF é profissional reconhecida nacionalmente, atuante nos projetos de combate à violência à Mulher e referência na política de respeito à isonomia, consagrada no “caput” do art. 5, do Texto Constitucional. Por essa razão, com muito orgulho para nossa Seccional, ela será uma das palestrantes da Conferência Estadual da Mulher Advogada, que acontece nos dias 29 e 30 de setembro próximos”. Felizmente para o país, figuras como Bolsonaro estão sendo seguidamente alijadas da vida política nacional pela ação dos próprios pares e pela postura determinada do judiciário.

Especialmente agora, renovada com a posse da ministra Carmem Lúcia na presidência do Supremo. Ela, vale lembrar, deu logo ao apresentar-se, o tom de sua atuação, ao abrir seu discurso de posse com uma saudação a “Sua Excelência o povo brasileiro”. Políticos como Bolsonaro, por fim, terão cada vez maiores dificuldades de encontrar amparo junto à população, como evidencia a indignação popular. Resta dedicar ao deputado os versos de Augusto dos Anjos apropriadamente lembrados por Reinaldo Azevedo no réquiem de Eduardo Cunha: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de tua última quimera (…) Acostuma-te à lama que te espera!”